quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Semente

Na manhã acordei e olhei pra terra, sem vigor algum lembrava do que havia sonhado, então levantei rebati a poeira que já me desbotava as calças de tanto tempo que eu fiquei ali parado esperando a vida passar. Num belo dia me atinou a mente de fazer uma viagem, sem nada no bolso. Peguei e fui.

Não sei se foi um dia tão belo assim, o pior de tudo foi que eu nunca mais fui o mesmo.

Compreendi que estava sozinho só quando fui atropelado, logo na rodoviária, por um taxista mais fudido da vida do que eu, mas só no remate da noite que isto me perturbou. Cansa. Mas fazer o que, se eu ficasse lá a vida seria outra, assim como se eu tivesse continuado com ela, ou com a outra, tudo vai atrapalhando ou ajudando no fim das contas.


Primeiro dia:
Diário, quem diria que um dia eu te teria?
quem diria que um dia faria uma poesia?

enfim, bobagem, não sei porque escrevi isto, acontece que não tenho muito tempo pra escrever aqui e sei que quando as luzes apagarem não poderei mais escrever, acontece que eu estou em um albergue, não, vou falar a verdade (não precisamos passar por vexames, mas a verdade humilha quem mente...) é um posto de gasolina com um canto empoeirado que eles tacaram uns colchões sem nenhum lençol, na borra pura, só não durmo no chão por medo desses mendingos que estão me olhando com cara feia não me achem esnobe. Afinal sou forasteiro em terras alheias, por isso desde que cheguei economizo a goela para preservar a garganta.
Nunca se sabe o que pode acontecer, sei que se alguém que achar este diário por favor, diga a todos que eu conheço que eu os amo e que o mundo pode ser melh...

Boiar durmindo.

Não sei é melhor apresentando em miúdos ou em metades
qual problema de eles se mostrarem trocados afinal?
ninguém consegue saber dos detalhes
se é ou não, no fim,
ninguém descobriu,
porque não deu em nada.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Mentira!

Pretexto!
- Pra que?
Pra te dizer que te amo!
- Mas porque me ama?
Não sei, na verdade eu nem quero pensar nisso! Faça alguma coisa!
- O que você faria agora?
Depende de como você reagiria. Poderia ficar chateada.
- E o que você faria pra eu não ficar chateada?
Não sei, o pior de tudo é a forma de te dizer tudo isso.
- Dizer tudo o que?
Então. Não sei explicar, eu sinto isso, é forte, mas não sei te falar, você não sente?
- Acho que sei do que tá falando. Mas será que tá falando sério mesmo?
Nunca falei tão sério.
- Não sei, acho que você está mentindo.
Não iria mentir pra você! Te amo!
- Então tá, me ama mesmo?
Amo!
- Me joga esta pedra!
Não!
- Porque?
Porque é muito grande, vai te machucar e mesmo que eu jogasse não jogaria com força, não! não faria nem o gesto, nem por brincadeira.
- Mas eu estou te pedindo, não me ama mesmo?
Amo, por isso que não jogo!
- Não, você não joga porque tem medo de eu desconfiar que não me ama, por isso quer resistir.
Também!
- Tá vendo, eu sabia que não me amava!
Ué, porque?
- Porque você mentiu pra mim!
Não menti! Tem várias razões para eu não lhe jogar uma pedra agora!
- Quais?
Eu quero te abraçar como nunca abracei ninguém antes, sentir neste instante o tempo parar. Quero isto mais que tudo, mais do que te jogar esta pedra.
- Porque não faz?
Porque nós ficamos falando.
- Tá bom, vamos parar de falar então?
Não, eu quero algo mais especial, sei lá, algo mais do uma cena de cinema, não quero te beijar agora.
- Como assim?
Você é a mulher da minha vida, não é mais uma!
- Eu já entendi, não precisa de drama, me abraça.
Mas eu quero que isto seja muito especial.
- Esta situação toda já não é especial o bastante?
Toma estas flores.
- Quais flores?
Não, você não vai vê-las, assim como meu amor. Mas acredite nelas, por favor!
- Tá.

(Naquele momento ela pegou as flores imaginárias e acreditou que elas existiam, colocou elas em um vaso e as regou, até hoje. A pedra? Esqueceram dela. Na verdade nunca mais viram outras.)
Ei, você vai me ascender?
- Acender com o que?
Com essa chama azul!
- Mas do que você está falando?
Você não é o mestre?
- Que mestre? Sou apenas um funileiro!
Mas porque você carrega a chama azul?
- Porque este é o meu trabalho! Soldar as coisas, preciso desta chama para que derreta o estanho. Nada demais.
-Nossa, mas tenta me ascender?
Não, você vai acabar se queimando! É louco?
-Tenta! E se eu ascender?
Agora?
-Sim! Se acontecer algo que não seja isto eu me responsabilizo!
Você que pediu!

Boooooom!


(trecho do último diálogo entre o funileiro e o butijão de gás psicótico)

Café da Manhã

Vejo que tenho dois refúgios.

Um que me cobra e me dita quais são as regras.
Outro que me obriga a abaixar a cabeça e ver o quão sou insignificante.
o Um ordena que não fale dele.
o Outro insiste que não acreditariam em mim.
-Mas que deslize rapaz, devo lhe punir?
-Não, acho que sua própria culpa ja é suficiente para que te cales.
Pronto, mexi em lugar errado, não devia ter mechido com isso.
_mas você quem começou, o Outro só revidou.
Não senhor, eu não estava falando com vocês, nem deveriam estar aqui.
_mas nós sempre estamos.
-É, você sabe muito bem.
Não me tentem confundir, tudo que eu quero é que vocês sumam.
-Sumir? hahaha
-Só quando você sumir, não é?
_é! hahaha
Só quando eu sumir? Então tá certo, vou acabar com essa história de uma vez.
_não o menino mimado, não faça isto!
-Cabeça oca, onde você pensa que vai?
Vou colocar uma camisa, me tornar algo. Quem sabe um herói, vilão.
-Tá bom, seja o que quiser, depois acorde no mesmo travesseiro imundo.
_imundo não!
-Não aguento mais aquele cheiro.
_porque você mesmo não se aguenta!
-Quem é você pra falar de mim?
_ninguém melhor que eu pra falar de você, não acha?
Definitivamente, vocês dois são despresíveis.
-Tal como quem diz.
_nós três?
Sabem pra onde vou?
-Vai ficar deitado.
_isto, nem queira se levantar, tá cedo e frio.
Não, vou pro mar, vou me internar lá por alguns dias, ver se vocês entram num acordo.
-Peraí, quem tem problema aqui é você, não a gente!
_é, não vem colocar a culpa em nós pelas suas bizarrices.
Tá, eu deixo tudo como está, mas vocês me prometem uma coisa?
-Depende.
_vai perguntar pro diabo!
Tá vendo?
-Colabora aê!
_tá, que coisa?
-Chato!
_ta vendo?
-A tua chatice? sim!
Calma! Deixem eu falar.
Minha mãe está pra chegar com o meu prato, se ela descobrir que os senhores estão aqui, vão acabar tentando expulsá-los! Podem acreditar!
-Porque expulsariam a gente?
_porque nem todo mundo pode...
-Pode o que?
_Nem todo mundo pode, consegue ouvir um, ou o outro. Assim como ele.
Isso! vocês me entendem?
_sim, vou ficar na minha.
-É, mas à noite os filmes é por minha conta!
_e as músicas por minha!
Pode ser, a gente dá um jeito...
-Nada disso!
_nada disso!
Tá bom, bando de obcecados! Combinado!

Mãe! to sem apetite! Vou ficar aqui no quarto jogando video-game!

"Não me importo, se não comer vai morrer de fome!
se não durmir vai morrer acordado,
se não morrer agora, vai morrer outro dia."